
No lugar onde se resume de forma didática a história do Rio Grande do Sul, acontece até o final de fevereiro de 2021, a exposição Patrimônios, Memórias e Histórias Negras, contando a trajetória destes grupos sociais descendentes de povos africanos. E o lugar não poderia ser melhor, pois ali está em exposição permanente uma sequência de painéis que descreve de forma didática, ilustrada e cronológica a sequência de fatos relevantes que formou este nosso território e a sua gente. Estão lá deste os primeiros humanos que conviveram com animais já extintos a milênios atrás, até a sua relação no alvorecer deste novo século com um mundo globalizado. Episódios, como os conflitos com os espanhóis, as missões religiosas, as imigrações, a Revolução Farroupilha, as revoltas internas e mesmo a vida de lideranças políticas, ajudam a conhecer um pouco do que aconteceu ao longo do tempo por estas terras. Mas há espaço para outras mostras neste que é um prédio erguido em 1913 com um projeto do arquiteto alemão Theo Wiederspahn, e que foi sede durante décadas dos Correios e Telégrafos. Em estilo eclético, suas salas recebem também exposição relacionada à cultura indígena organizada pelo Museu Antropológico do Rio Grande do Sul com sede ali. Os artefatos dos que vagavam por planícies, vales e montanhas antes da chegada de povos de outros continentes está à disposição para apreciação de visitantes, e estudo de pesquisadores… Mas recentemente está em destaque então, a exposição que conta a trajetória de comunidades rurais e urbanas formada em sua maioria por descendentes de africanos. Através de fotos e alguns documentos, está contada a trajetória destes povos que vieram como escravos para terras americanas, mas que foram libertados em fins do século XIX. A ênfase é explicação do surgimento das comunidades com a cessão de terras por partes dos antigos “proprietários” deles, mas também com a formação dos quilombos. Quilombos que nada mais eram do que comunidades erguidas por aqueles que se insurgiram contra o flagelo da escravatura, e constituíram de forma livre o seu próprio território e seu próprio grupo social. E é claro que não podia faltar o relevante episódio em que escravos em troca de prometida liberdade, lutaram pela causa farroupilha. Conhecidos como Lanceiros Negros, eles foram atacados e derrotados de forma implacável, na Batalha de Porongos. E o verdadeiro massacre, teria sido facilitado por tê-los encontrando desarmados em franca desvantagem. E até hoje se discute se teria sido uma traição dos próprios líderes farroupilhas, que os teriam deixado em condições desfavoráveis contra a investida imperial… Histórias que precisam ser estudadas e contadas, para que os cidadãos de todas as origens, possam entender a trajetória de seus antepassados. Sejam os que já estavam aqui há milênios ou os que vieram nos últimos séculos da Europa e da África de diferentes formas, para formar o povo gaúcho…


